Ela está em mim e eu estou nela,
a minha fragilidade está intacta, jamais consigo arranhá-la
porque é existencial, estrutural,
não conquistada,
vivida, vívida
tenho medo dela mas ela me
defende, e em tudo sou frágil,
nas decisões sobre o que sou, sobre
o que eu devo ser,
nos encontros, nas certezas, nas
escolhas.
Mas no que sou mais frágil é na
minha capacidade de exigir, no meu orgulho, na minha indignação...
porque é uma indignação tão
frágil, que não muda nada, não muda o
mundo, não me muda,
só me faz mais frágil pelo que
percebo que deveria tecer, dizer, construir e não ajo...
mas ela me constitui, me protege
de não-ser
me livra de atacar, de matar, de
fugir, de mudar,
se me encho de coragem, é contra e
em reação ao meu avesso frágil,
então, na minha âncora-fragilidade,
fico, existo, resisto, persisto, sobrevivo
frágil, respiro
frágil dirijo,
frágil trabalho,
frágil lavo os lençóis,
frágil cozinho, frágil continuo, não paro, ando
frágil compro tudo o de que não
preciso e o que preciso e vivo
frágil sonho com um mundo melhor,
frágil desejo um futuro brilhante,
frágil me dispo da fé,
frágil me ponho de pé
e outro dia, vivo, emerjo
venço a rotina, desejo
sinto compaixão, e anseio
por mais uma vez, e ainda,
ser,
se não o fora de outra maneira,
aquilo que mais temo ser:
sou frágil.