SER MULHER
Em dias que empreendemos uma campanha de conscientização sobre a violência contra a mulher,
penso ainda na violência psicológica, aquela cujas marcas e feridas não são aparentes.
Penso na violência contra os sonhos, contra o romantismo, contra as promessas.
Penso na violência contra as melhores expectativas, contra os projetos, penso nas demissões, nos divórcios, no desrespeito ao que é doce, sensível, secreto numa mulher.
Penso no escárnio, no desprezo, na objetividade em detrimento da subjetividade. Muitos já disseram que os homens estão sem voz e sem lugar, que as mulheres tomaram a frente das famílias...
Sim, mas empreendendo um papel positivo, masculino e muito prático. Parece-me que o que realmente esta faltando em nossa sociedade são aquelas características doces e construtoras de sensibilidade que específicamente representavam a mulher.
Penso em quanto a vulnerabilidade, a doçura e a feminilidade têm estado sem lugar, amordaçadas... Quanto tem sido forçoso lutar, superar, vencer e sobreviver a despeito da aspiração, da sensibilidade, da vocação!
O amor, a alma e a doçura ficam sem função e sem representante, na sociedade capitalista, altamente produtiva e objetiva, deixando grassar o vazio e o medo. Paradoxalmente o terreno fica fértil para a disseminação de mais violência.
Que nesses dias onde os fatos mais violentos são trazidos à nossa memória, homens e mulheres façamos um questionamento a respeito da falta que está fazendo em nós um
verdadeiro (ou antigo) perfil de mulher.
Em que momento todos perdemos (ou vendemos) a ternura?