A CASCA



A couraça rígida, que muitas vezes desenha nosso corpo, pode ser interpretada como inconveniente,  desagradável ou motivo de sofrimento para o sujeito.
Somos sim sujeitos expostos a muitos eventos, ataques, machucados.  A casca da ferida embora inflexível, feia e áspera foi o melhor que a vida conseguiu providenciar na urgência em que se via de ter que proteger o corpo, pois com aquele sulco aberto uma perigosa vulnerabilidade permitiria a entrada de  bactérias e outros ataques que culminariam em prejuízos muitos grandes para o organismo.
Entre a exposição e a vulnerabilidade, a natureza descarta a elegância, que demanda tempo, e age com rapidez fechando bruscamente a porta.

Alguns, vendo o efeito final, dirão que a casca é indesejável e procurarão os meios de estirpá-la para livrar a pessoa de tal aberração. A sabedoria, contudo, teve seus motivos para providenciar tamanha rudeza.

Sim temos que vencer nossos medos.
E sermos desafiados a enfrentar nossas incertezas parece desejável e saudável. Mas para descascar um ser humano será preciso muito tempo e unguento. Pois, se formos precipitados, poderemos produzir sofrimento desnecessário, dor redobrada num lugar já atingido e marcado e, finalmente, uma nova casca ainda mais feia e dura poderá ser construída no local.