Devaneios de cascos e teias


Num instante o passado pôde ser totalmente adentrado (invadido) por uma vivência presentemente mole. Dureza e moleza se embatem, confrontam.
E onde, antes, existia uma dureza normal e adequadamente escolhida (adaptada-aprendida), agora mesmo, revela-se uma dureza blindada, implacável, lacradíssima que rolou com seu casco pelos barrancos do tempo.


Então, solta da casca, surge uma coisa mole (que não ouso definir ou tocar), mas que, sendo patentemente, enfaticamente, biologicamente, inevitável e incontestavelmente mole, se volta para a dureza pregressa com tal indignação e superioridade, e questiona o passado duríssimo – ou melhor – nem crê nessa duríssima mentira e segue desfiando uma tardia autonomia-mole!

Somente o desejo de destruição pode ser o legado de um passado indignamente tolerante. Somente a extinção cabal da esperança pode por a salvo o futuro, onde ele escape de uma passividade tosca, de somente esperar os frutos de um presente omisso.

O aniquilamento é a única atitude pertinente, única salvação que poderá derrubar a esperança e a fé de um dia vivermos felizes!


Então sem fé, sem esperança e sem tal futuro, viveremos felizes, no que assim for possível, porém livres de desenganos. 
E divorciados da procastinação, teceremos nova vida, com os fios desse tempo que se chama agora.