A FORÇA DE UM SÍMBOLO



O símbolo tem a natureza dúplice de participar do mundo real e do mundo fantasmático.

Entre os milhares de significados e sentidos que são atribuídos ao fogo – esse velho conhecido do homem – podemos destacar a individuação, ou seja, a capacidade de se tornar indivíduo, de existir enquanto criatura criadora, participatuante na geração/consumação de vida e de desejos.



Saber lidar com o próprio fogo é uma das lições preciosas que devemos aprender ao longo de nossa jornada. Saber dosá-lo, quando atiçar, quando abrandar, quando afastá-lo e quando se aproximar dele.

Reverência e devoção são necessárias. É preciso acender, manter aceso, controlar. Há o perigo. Há o medo. Há a possibilidade de tudo se incendiar, se acabar. Mas se você não for lá, não atear, não acender então há o perigo da inércia, da omissão, da indigência.

Nosso fogo não pode apagar e não pode incendiar, com o tempo percebemos que em algumas épocas precisamos revolver e assoprar e em outras abafar um pouco.

Nosso fogo é nosso fôlego, élan, marca, história, herança. Certeza de estarmos vivos. Nosso céu e nosso inferno. Com ele começamos, sem ele findamos.

Minhas velas-ao-redor me lembram da severidade e da responsabilidade existenciais. Iluminam o perigoso caminho da omissão, chamando minha presença, decisão, escolhas. São um sinal de que ainda existem caminhos de vida pura para percorrer, que ainda uma vez, e outra vez, é preciso engravidar, se apaixonar, ferver, apostar e mais e mais viver.

Ainda gostar, ainda conhecer, ainda encontrar, não descuidar, nunca esquecer.

Obrigada, André Silva, por me ajudar a interpretar.

SOU FRÁGIL


Ela está em mim e eu estou nela,
a minha fragilidade está  intacta, jamais consigo arranhá-la
porque é existencial, estrutural, não conquistada,
vivida, vívida
tenho medo dela mas ela me defende, e em tudo sou frágil,
nas decisões sobre o que sou, sobre o que eu devo ser,
nos encontros, nas certezas, nas escolhas.
Mas no que sou mais frágil é na minha capacidade de exigir, no meu orgulho, na minha indignação...
porque é uma indignação tão frágil, que não muda nada, não  muda o mundo, não me muda,
só me faz mais frágil pelo que percebo que deveria tecer, dizer, construir e não ajo...
mas ela me constitui, me protege de não-ser
me livra de atacar, de matar, de fugir, de mudar,
se me encho de coragem, é contra e em reação ao meu avesso frágil,
então, na minha âncora-fragilidade, fico, existo, resisto, persisto, sobrevivo

frágil, respiro
frágil dirijo,
frágil trabalho,
frágil lavo os lençóis,
frágil cozinho, frágil  continuo, não paro, ando
frágil compro tudo o de que não preciso e o que preciso e  vivo
frágil sonho com um mundo melhor,
frágil desejo um futuro brilhante,
frágil me dispo da fé,
frágil me ponho de pé
e outro dia, vivo, emerjo
venço a rotina, desejo
sinto compaixão, e anseio
por mais uma vez, e ainda,
ser,
 se não o fora de outra maneira,
aquilo que mais temo ser:
sou  frágil.