Licença para Envelhecer

Velha Sábia, firme lúcida e decidida. Mantenedora da centralidade, a que sabe, a que ensina, a conselheira... Cadê?


Mas o que é feito das velhas, das madonas, das matronas? Cabelos brancos, sorriso nobre. Onde está a sabedoria, a segurança e a serenidade da minha geração, onde está minha vó? Achou de morrer tão cedo e me deixar aqui sem, modelo pra envelhecer. 
Eu não sei envelhecer alguém pode me ensinar? Alguém pode me ensinar a arrastar os chinelos, a rezar criança e a cozinhar um xarope pra gripe?
Porque as mulheres da minha geração estão em guerra contra o envelhecimento. Precisamos frequentar a academia, pintar os cabelos e os olhos. Temos que gastar todo o nosso dinheiro com as mirabolancias do comércio de disfarces. É proibido ser velha! Aff! Agora que chegou o meu dia de envelhecer tenho que me disfarçar em jovem.

E o jeito dos cabelos e as roupas e a nova vitamina e o mais novo extrato vegetal são os guardiãos da juventude a qualquer custo!
Queria plantar um jardim, costurar, fazer tricot, rezar. Mas isso é pura perda de tempo! 
Mas que tempo sem velho é esse? Chamar alguém de velho é xingar! Putz! Mas todo mundo um dia, se sobrevive, fica velho, bom, experiente. Sabe muito? Não!  Não?
Não, porque o conhecimento se tornou volátil. A cada minuto que passa o que era nutritivo se torna venenoso e de novo nutritivo (exemplos carne vermelha e gema de ovo) e assim vai. 
Vemos um intenso culto ao jovem, iniciante, à novidade e a velocidade. O tempo aliado à novidade fazem tudo perecer, perder a validade...



Ganhamos conhecimentos e jogamos fora trocamos por novos, como o fazemos com as roupas, os carros, e...
com as pessoas.